Fonte: www.tdvadilho.com

Contos ( Al )

  |   Cômico e Piratas

 |  7 minutos

Bandeira dos Piratas do Barba Falsa

Jack! — brandou o homem aos sete ventos. Ele estava envergonhado, amarrado ao mastro do próprio bote pirata. — Jack, é isso mesmo que eu estou pensando?!

E você ainda tem alguma dúvida? — perguntou Jack com todo o sarcasmo reunido na piada.

Um motim, Jack? Um motim logo contra mim?!

Ora, eu sei que você é lento, mas é algo bem lógico… — respondeu Jack. — Contra quem mais poderia ser? Só tem eu e você nesse bote.

Mas Jack, o que é que você vai fazer com um bote pirata? Um pássaro não pode ser capitão!

O pássaro ficou bravo e voou para perto do capitão, ou já nem tão capitão assim. Depois ele estendeu uma das asas e apontou a pena para o rosto do homem.

Não me venha com essa, Barba Falsa. Você assistiu a um filme e decidiu que estava pronto para ser um capitão pirata. Se até você pode, por que é que um pássaro não poderia comandar?

Eu não assisti a um filme só não — tentou Barba Falsa argumentar. Porém Jack lhe lançou um olhar que o fez revisar. — Tá, tá… está bem. Eu só assisti um filme. Mas era um filme muito bom; e eu assisti pelo menos sete vezes antes de tentar a sorte no mar.

Poderia ter visto outras setenta vezes e ainda assim nada iria mudar. A questão é que já estou cansado das suas ordens. Você não entende nada de pirataria e está na hora do comando mudar — disse Jack com um tom decidido.

Barba Falsa deixou uma lufada de ar incrédula escapar. Era muita audácia para aguentar.

Não! — exclamou Barba Falsa. — Eu me nego!

Se nega?

Sim. Me nego a abandonar o meu posto.

Tem certeza?

Absoluta.

Então vou ter que te lançar ao mar para algum tubarão te devorar…

Jack mal teve tempo para terminar a ameaça e Barba Falsa já se pôs a argumentar:

Ahá! Você diz que eu não entendo de nada sobre pirataria, mas está aí querendo me atirar para virar lanche de tubarão.

E daí? — perguntou Jack, já esboçando um sorriso no canto do bico.

Ué, todo mundo sabe que tubarões não comem humanos!

Jack bufou como quem diz não acreditar.

Que tipo de capitão você seria se não entende nem o básico sobre atirar alguém ao mar? — perguntou Barba Falsa.

Ora, isso é o que você diz. Eu digo e, se precisar, repito: tubarões devoram homens que caem no mar.

Neste momento, Barba Falsa teve uma brilhante ideia para retomar o controle do bote.

Está bem, Jack. Que tal uma pequena aposta então?

Prossiga… — incentivou Jack.

Me leve até um tubarão, estenda a prancha e eu salto ao mar. Se o tubarão me devorar, parabéns, você é o novo capitão. Agora, se ele não me devorar, eu retorno ao bote como capitão do lugar. O que acha? — perguntou Barba Falsa, confiante na vitória.

Aceito a aposta.

Me dê sua palavra de que honrará o acordo, Jack.

Certamente — disse Jack estufando os peitos. — Como pássaro pirata honrado que sou, prometo honrar o acordo estabelecido no mar.

Certo — acenou Barba Falsa. — Então encontre logo um tubarão para eu pular.

E assim Jack fez. Remou por cerca de duas horas, encontrou um pequeno cardume de tubarões-martelo (pelos quais ele procurou especificamente), e preparou a prancha para Barba Falsa pular. Depois ele liberou apenas o nó que prendia o homem ao mastro e se afastou para observar.

Preste bastante atenção, Jack. Agora é a hora de você reconhecer o grande capitão que te comanda no mar.

Mal posso esperar… — ironizou Jack, fazendo uma longa reverência e indicando a prancha para o homem saltar.

Barba Falsa saiu pulando, arrastando a corda que ainda prendia suas mãos e os seus calcanhares. Ele atravessou a prancha com algum esforço, e caiu com um baque seco no mar. O tubarão, como ele esperava, nada fez além de dar meia volta e sair nadando de lá.

Está vendo, Jack?! Eu disse que tubarões não devoram humanos que caem no mar. O controle do bote é meu outra vez!

Muito bem, Barba Falsa! — exclamou Jack, finalmente liberando o sorriso que se esforçou para segurar — O controle é todo seu, basta subir e pegar. Mas é melhor não demorar muito… ou já se esqueceu que você mal sabe nadar com as mãos livres?

Esse foi o momento em que Barba Falsa percebeu a mancada que dera no mar. Seu corpo, que antes estava levemente boiando, começou a afundar.

Ora seu… — ensaiou Barba Falsa.

Seu…? — repetiu Jack. — Se quer ajuda é só falar. Mas façamos um trato: eu te atiro uma bóia, desfaço os nós e te retiro do mar. Em troca você só precisa pedir por favor, e me reconhecer como o capitão desse lugar.

Eu não vou… — tentou o homem dizer, porém uma golada de água salgada empurrou a fala de volta para o seu lugar.

Barba Falsa não teve outra saída, teve que aceitar.

Pouco depois, tremendo debaixo da toalha encharcada, o ex-capitão se pôs a queixar:

Eu deveria ter adotado um papagaio… seu maldito pardal.

Deveria — concordou Jack —, papagaios só sabem repetir, não servem para comandar. De qualquer forma, você já se secou o suficiente, agora comece a remar.

Sim, Jack…

Ilustração da historieta #1, Um Motim no Bote Pirata. A Ilustração, feita de modo tradicional, com nanquim, retrata a personagem Jack, o pardal, se sentindo confiante na proa do bote, enquanto Barba Falsa,  mais ao fundo, o encara com toda a raiva acumulada no olhar. ©Thiago David Vadilho (TD Vadilho) www.tdvadilho.com -noai-noimageai

Caneca com a arte disponível na loja. Materiais utilizados aqui.

O pardal o encarou, com as sobrancelhas arqueadas praticamente no ar. Barba Falsa se corrigiu, murmurando um “Capitão Jack” que quase o fez infartar.

Bandeira dos Piratas do Jack, o Pardal
asssinatura TD Vadilho

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