As meninas ganharam dois bichinhos de pelúcia da minha mãe, e, depois de terem certeza de que o almoço havia acabado, decidiram levar os dois para o quintal dos fundos para, supostamente, brincar.

Algum tempo depois, fui até o fundo de casa e encontrei elas exatamente como estão nas fotos, sentadas em cantos opostos do quintal. Ao invés de estarem brincando de trucidar as pelúcias, as duas cabecinhas estavam protegendo seus respectivos bichinhos, enquanto tentavam encontrar a resposta para uma pergunta bastante importante: como fazer pra roubar o bichinho da minha irmã sem que ela revide e me deixe só com uma pelúcia no final?

Foi difícil fazer elas olharem para a câmera. A Betina, que puxou pra mim e veio com tremor de fábrica, parecia uma vara verde na ventania, tentando decidir se atendia aos meus chamados e dava uma desviada de atenção, ou se continuava fitando a irmã até o último, mantendo o foco total.

Achei fofo, como quase tudo o que elas fazem, confesso, e tive a ideia de pegar o bichinho de cada uma para colocar no meio do quintal. Só queria ver a reação das caramelinhos, e foi assim que as coisas ficaram:

A Rafa ficou parada no lugar, o que é compreensível, ela está no cio e o cio, que demora uma eternidade, diga-se de passagem, faz ela ficar borocoxô.

Já a Bê andou até os bichinhos e ficou encarando a irmã. Seu pescoço começou a balançar de um lado pro outro, quase como se fosse uma cobra alertando, “ó se eu quisesse… ó” ou “se mexe que eu vô”.

Fiquei com dó da Rafa e tentei dar uma incentivada. Peguei novamente os dois bichinhos e coloquei bem perto dela, quase tocando o focinho, e saí de cena para observar.

1 Duas abelhas comidas em menos de dois anos de vida, e contando!

Como uma legítima vira-lata caramelo que descende de pinschers predadores de abelhas¹ e que passou duas vezes na fila de Como ser Sorrateira — ambas as vezes reto, sem nem olhar —, a Betina foi se arrastando como se fosse invisível, enquanto rosnava um “não estou aqui”, para tentar pegar as duas pelúcias ao mesmo tempo e, inevitavelmente, falhar. Estranho, ela deve ter pensado, jurava que ia dar… E então a Rafa se mexeu, e a Bê estremeceu, e em um milésimo de segundo a cabecinha optou por pegar uma única pelúcia e sair correndo daquele lugar. Ela deu três passos e tropeçou no bichinho, virou uma cambalhota e levantou rapidinho, e em seguida foi como um pinscher raivoso brigar com a irmã que nada tinha feito, além de se mexer um pouco para se coçar.

1 Duas abelhas comidas em menos de dois anos de vida, e contando!

Sim, fui tirar uma foto do sorriso da Bê e acabei descobrindo que ela se apossou das duas pelúcias e as levou para um cantinho que só tem um caminho para entrar. Agora ela tem uma ótima proteção e a Rafa deixou pra lá… Betina é uma mistura de genialidade com nonsense que é de impressionar.

Espero que essa edição do Diário Não Diário tenha ajudado a melhorar a sua sexta, ou seja lá qual for o dia em que estiver lendo :)

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